Como se a vida tivesse aceitado prontamente e de bom grado o seu convite para dançar, João Sutil, 97 anos, segue sua trajetória lépido e feliz, tendo a dança como sua principal parceira nos últimos 16 anos, quando ficou viúvo após mais de 60 anos de casamento. Com boa coordenação motora, além de uma lucidez admirável, o lavrador aposentado não aparenta a sua idade quase centenária (a família suspeita até que ele já tenha 102 anos, mas ainda não conseguiu confirmar, pois o cartório que tinha o seu registro de casamento original, em Marilândia do Sul, pegou fogo). Apesar da idade avançada, que afeta parcialmente a sua audição, ele mora sozinho, em São Jerônimo da Serra, e esbanja disposição. Após a morte da sua esposa – Maria Carmelina de Souza, aos 77 anos - morar no sítio ficou mais complicado e o jeito foi arranjar uma casa na cidade para poder ficar mais perto da filha Maria dos Anjos Sutil, a "Dosanja" como é conhecida, que auxilia mais diretamente nos cuidados com o pai – como lavar e passar a sua roupa. Segundo João Sutil, ele nasceu em "13 de outubro de 1917".
Mas quem pensa que a solidão flerta com ele está enganado: pé-de-valsa, ele está sempre participando dos bailes da terceira idade da redondeza e das "brincadeiras dançantes" nos barezinhos da cidade. Como o Bar do Chicão, em que um pequeno salão de repente se transforma em uma espaço de convivência e diversão. Viúva também há 16 anos, dona Cecília Lisboa Dias, 77 anos, costuma acompanhar os passos dançantes do colega. Mesmo depois de passar por uma cirurgia na perna, há três anos, ela não se intimida em dançar algumas músicas com o amigo que é primo do seu falecido marido. "E é só amizade", ela garante, embora o Seu João agora tenha fama de ser "namorador".